Pesquisa do CIO
Trump anuncia novas tarifas
Explore como as tarifas impostas pelos EUA afetam o comércio global.
Os EUA estabeleceram uma taxa mínima global de 10% e impuseram taxas mais altas a parceiros-chave como Canadá, Brasil e Suíça. Embora o impacto econômico possa ser administrável, explicamos por que os investidores devem se preparar para uma maior volatilidade nos mercados.
Panorama atual
- O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou novas tarifas com a chegada do prazo de 1º de agosto, incluindo um imposto de 35% sobre muitos produtos do Canadá, 50% para o Brasil, 25% para a Índia, 20% para Taiwan e 39% para a Suíça.
- 69 parceiros comerciais foram incluídos na ordem executiva assinada por Trump na quinta-feira à noite, enfrentando tarifas que variam de 10% a 41%. Produtos de todos os demais países não incluídos estariam sujeitos a uma tarifa de 10%. O México, por sua vez, recebeu uma extensão de 90 dias para continuar as negociações.
- As novas tarifas entrarão em vigor após a meia-noite de 7 de agosto, para dar tempo para a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA se preparar.
- Separadamente, juízes de um tribunal federal de apelações mostraram ceticismo quanto à autoridade do presidente para impor tarifas drásticas com base na Lei Internacional de Poderes Econômicos de Emergência (IEEPA, na sigla em inglês) durante uma audiência na quinta-feira. O tribunal não deve tomar uma decisão até uma data posterior.
- Embora o prazo de 1º de agosto tenha sido bem sinalizado, a reação inicial do mercado ao anúncio das tarifas foi negativa. No momento em que este artigo foi escrito, os futuros do S&P 500 operavam em queda de 1%. Enquanto o mercado de ações suíço estava fechado devido ao feriado nacional de 1º de agosto, os mercados europeus abriram em baixa. Os mercados asiáticos também sentiram pressão, com quedas nos índices de referência da Índia e de Taiwan, em particular.
- Nosso cenário base ainda considera que a taxa tarifária efetiva dos EUA deve se estabilizar ao redor de 15% até o final do ano, e é provável que o impacto econômico permaneça administrável. A tarifa mínima global parece melhor do que se temia anteriormente, e os acordos recentes reforçam a redução dos riscos comerciais.
- A tarifa mínima global de 10% acabou sendo menor do que os mercados esperavam, já que Trump havia sugerido taxas de 15-20% para países que não firmassem acordos comerciais bilaterais com os EUA.
- Os acordos fechados nos últimos 10 dias, especialmente aqueles com grandes parceiros comerciais como União Europeia, Japão e Coreia do Sul, também ajudaram a restaurar a confiança do mercado de que o pior do conflito comercial pode ter passado, e de que o governo Trump buscaria evitar tarifas que pudessem causar sérios danos à economia dos EUA.
- As taxas "recíprocas" podem exagerar seu impacto real, o que indica que há mais margem para negociação.
- Embora Trump tenha imposto uma tarifa de 35% sobre o Canadá, a maioria das exportações canadenses para os EUA será isenta devido ao Acordo EUA-México-Canadá (USMCA). Da mesma forma, uma longa lista de produtos brasileiros está isenta da tarifa de 50%, enquanto as exportações brasileiras para os EUA representam menos de 2% do PIB do país sul-americano.
- Acreditamos que há espaço para novas negociações que poderiam reduzir as tarifas "recíprocas" para certos mercados. A equipe de negociação dos EUA está programada para visitar a Índia no final deste mês, enquanto Taiwan declarou que um acordo comercial com os EUA está próximo.
- Dada a abordagem de negociação de escalada para desescalada de Trump, esperamos que novos acordos comerciais surjam nas próximas semanas e meses.
- A mudança nas tarifas de cobre aponta para os desafios de trazer a manufatura de volta aos EUA.
- Trump avançou com a tarifa de 50% sobre as importações de cobre, mas isentou o cobre refinado das taxas. Isso, na nossa opinião, destaca o reconhecimento do governo de que levaria tempo para trazer alguns setores de volta aos EUA.
- Dissemos que as tarifas setoriais podem ser mais duradouras quando implementadas com bases legais mais sólidas, mas os eventos recentes e o período de carência para importações farmacêuticos sugerem que esses impostos talvez não sejam tão punitivos quanto Trump havia ameaçado.
- Ainda assim, essas tarifas seriam um obstáculo para o comércio e o crescimento global, e já começaram a contribuir para o aumento da inflação.
- Dado que os mercados já precificaram grande parte das boas notícias na frente comercial, esperamos um aumento da volatilidade das ações no curto prazo. Os investidores devem considerar formas de navegar pelas oscilações de mercado à frente, incluindo estratégias estruturadas e compras em quedas, dependendo de sua alocação de ações em relação aos índices de referência de longo prazo.
Impactos mais relevantes
- A Suíça não conseguiu chegar a um acordo comercial com os EUA antes do prazo de 1º de agosto, de acordo com um anúncio de mídia social pela presidente suíça, Karin Keller-Sutter.
- Posteriormente, o governo dos EUA publicou uma nova lista de tarifas, elevando as taxas sobre as importações suíças para 39% a partir de 7 de agosto. Este é um aumento acentuado em relação à taxa de 31% anunciada no "Dia da Libertação", bem acima da taxa de 10% aplicável durante a recente pausa tarifária, e seria a quarta maior taxa comercial dos EUA caso falhem os novos esforços de negociação.
- Em uma declaração separada em 1º de agosto, um porta-voz do Departamento Federal de Assuntos Econômicos da Suíça afirmou que as autoridades suíças entendem que as tarifas não devem incluir o setor farmacêutico, conforme relatado pela Reuters. O governo suíço informou que está avaliando a situação e continuna em contato com as autoridades dos EUA, visando uma solução negociada.
- Em nossa opinião, os EUA são o principal mercado de exportação da Suíça, representando cerca de 19% das exportações de produtos suíços em 2024, o equivalente a CHF 52,7 bilhões. Caso não chegue a um acordo, os exportadores suíços correm o risco de enfrentar uma tarifa de 39%, em comparação com apenas 15% para a UE.
- Isso coloca as empresas suíças em uma desvantagem competitiva significativa, especialmente em setores voltados à exportação, como relógios, máquinas e instrumentos de precisão. Se os produtos farmacêuticos – que representam cerca de 60% das exportações suíças para os EUA – continuem isentos, a situação seguirá fluida e sujeita a novas mudanças na política dos EUA.
- Nosso cenário base ainda considera que a Suíça e os EUA chegarão a um acordo tarifário semelhante ao acordo entre a UE e os EUA com tarifas de 15%. Dada a grande exposição da Suíça nas exportações farmacêuticas, o resultado das investigações tarifárias da "Seção 232" e os esforços de Donald Trump para reduzir os preços dos medicamentos também desempenham um papel relevante no comércio exterior.
- O índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) subiu 0,3% em junho, após uma revisão para cima de 0,2% em maio, elevando a taxa de inflação anual para 2,6%, acima dos 2,4% anteriores e ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve. O núcleo do PCE, que exclui alimentos e energia, também subiu 0,3% no mês, acompanhando o ritmo de maio e elevando a taxa anual para 2,8%.
- Estes dados correspondem às expectativas e refletem a transmissão gradual das tarifas aos preços ao consumidor. Enquanto isso, o consumo, que representa mais de dois terços da atividade econômica dos EUA, cresceu 0,3% em junho, após ficarem estáveis em maio, apoiando uma recuperação no crescimento do PIB no segundo trimestre.
- Na nossa opinião, embora os dados do PCE de junho confirmem que as tarifas estão começando a elevar a inflação, continuamos esperando que a tarifa efetiva dos EUA se estabilize perto de 15%, resultando apenas em um aumento modesto nos níveis gerais de preços.
- O processo de repasse dos custos de importação mais altos aos consumidores provavelmente será gradual, e esperamos que essa tendência de aumentos moderados de preços impulsionados por tarifas persista nos próximos meses. Qualquer surpresa inflacionária acima das expectativas pode complicar a capacidade do Fed de justificar cortes nas taxas. No entanto, a inflação subjacente de serviços permanece moderada e a inflação de habitação, que é um dos principais impulsionadores do crescimento geral dos preços, deve continuar desacelerando.
- Além disso, embora o crescimento do PIB tenha se recuperado no segundo trimestre, os dados subjacentes apontam para uma atividade moderada, como uma forte desaceleração no investimento empresarial e residencial, em linha com nosso cenário-base de desaceleração do crescimento do PIB dos EUA para cerca de 1,5% em 2025, de 2,8% no ano passado. Combinados com um mercado de trabalho mais fraco, esses fatores devem permitir que o banco central comece a afrouxar a política ainda este ano.
- Os dados do World Gold Council para o segundo trimestre de 2025 mostraram que os principais impulsionadores da demanda pelo ouro permanecem intactos.
- As compras do banco central diminuíram de uma média de quatro trimestres de 206 toneladas métricas (mt), mas ainda foram decentes 166,5 mt.
- Outro importante impulsionador da demanda - o apetite dos investidores por fundos negociados em bolsa (ETFs) de ouro - cresceu, com entradas de 170,5 mt, acima da média de quatro trimestres de 83 mt. Barras e moedas contribuíram com 307 milhões de toneladas de demanda em comparação com uma média de 299 milhões de toneladas em quatro trimestres.
- Os preços do ouro subiram 6,9% durante o segundo trimestre deste ano, de US$ 3.123/onça para US$ 3.303/onça.
- Em nossa opinião, não vemos a demanda do banco central por ouro em colapso nesta fase, e a ligeira desaceleração no segundo trimestre parece ser mais devido a certos bancos centrais normalizando as compras após alguns trimestres de compras muito agressivas.
- Várias pesquisas indicaram que os bancos centrais que mudam sua alocação de USD para ouro devem continuar por algum tempo. Continuamos acreditando que os investidores devem alocar uma porcentagem de suas carteiras para o ouro como um diversificador contra o risco geopolítico, e vemos os preços do ouro em US$ 3.500/onça até o primeiro semestre de 2026.